Na semana em que o Brasil atinge um dos patamares mais funestos em número de casos e mortos em relação à Covid 19, com quase 9 milhões de contaminados e quase 240 mil óbitos, sentimos por todos os lados o avanço de um projeto liberal, negacionista e genocida que simplesmente ignora essa realidade e aponta para a necessidade de abertura das escolas.
Diante dessa pressão, professores e funcionários de escolas de todos os estados brasileiros deflagram greve pela vida, um movimento paredista sem precedente em nossa história recente, pois o que se reivindica aos governos é que respeitem o direito mais fundamental que possa existir: a vida!
Todos, principalmente nós, educadores e educadoras, que construímos efetivamente o chão da escola, que enfrentamos diariamente as condições mais adversas e cruéis para exercer nosso papel de formar cidadãos críticos, sabemos bem o papel e a importância da escola. E, por isso mesmo, lutamos de todas as formas contra o processo constante e sistemático de precarização da escola, lutamos contra a desvalorização dos trabalhadores da educação, que em sua maioria não recebem nem mesmo o piso de seus respectivos cargos. E justamente por conhecermos a realidade concreta da escola é que afirmamos enfaticamente que este não é o momento para aulas presenciais.
Também sabemos que o único responsável por esta atrocidade que estamos experimentando no atual momento é um governo que deseja desmontar conquistas históricas da sociedade brasileira, que não investe em ciência e pesquisa, que negligencia nossas perdas humanas e que desinforma a população, que votou a PEC 95 sufocando ainda mais investimentos em áreas como saúde, educação e segurança, que aprovou a reforma trabalhista e da previdência, e que avança forte manipulando e comprando parlamentares para aprovar a PEC emergencial que reduz salários em plena pandemia e quer aprovar a reforma administrativa à qualquer custo para desmontar definitivamente os serviços públicos, entre ele o tão fundamental SUS.
Saquarema e Araruama seguem na luta em defesa da vida
Isso, porém, não se dá apenas no plano federal, nas mais diversas redes municipais, governos pressionam pelo retorno das aulas presenciais e ameaçam com corte de salário àqueles que lutam pela vida. É o que acontece hoje nos municípios de Araruama e Saquarema, no interior do Rio de Janeiro, que estão em greve em defesa da vida.
O Sepe Costa Litorânea possui uma grande combatividade , realizando lutas importantes e com ganhos para categoria, mesmo em período de pandemia. Fizeram e fazem a luta política na rua, com atos simbólicos, cujo efeito foi sentido através do reajuste de quase 40% para rede Municipal de Saquarema, além de outras conquistas importantes como o aumento do auxílio alimentação que passou a ser de R$500,00, e outras.
Um feito importantíssimo, pois o núcleo ressurge do zero. Passou 6 meses acéfalo , reiniciando com a atual direção.
Várias atividades estão sendo realizadas com destaque para Plenária pela Vida e Sobrevivência que contou com a presença pesquisadores da Fiocruz, Conselho Municipal de Saúde, além de professor e médico do Sinpro-Rio.
Uma próxima plenária está sendo marcada para discussão da Reforma Administrativa. O reconhecimento da luta do Sepe Costa Litorânea, vem também através de inúmeros apoios que vem recebendo como: Central Única Dos Trabalhadores – RJ; Sinpro-Rio; Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro; Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes); Feteerj; Cedim; Conselho Municipal de Saúde de Saquarema; OAB de Saquarema No entanto, a luta pela vida e sobrevivência é bastante árdua, em função das políticas desenvolvidas por ambos município, no sentido de atender interesses mercadológicos, bem como a tradição coronelesca. São grandes os desafios para ambos os municípios, mas a luta está sendo travada. Importante ressaltar que esses municípios possuem altos índices de ocupação de leitos e sabemos que a circulação de crianças e adolescentes na cidade por conta da abertura das escolas tende a aumentar o contato não somente com os que frequentam as unidades, mas nas ruas, no transporte coletivo e isso é algo muito grave.
É absurdo comparar abertura de escolas às praias, shoppings e praças por inúmeros motivos. O primeiro é que a escola é um local de trabalho e estudo, portanto, não se trata de uma atividade de lazer onde as pessoas comparecem por opção, segundo que salas de aula são espaços fechados, mal ventilados, muitas vezes apertados e comportam dezenas de estudantes simultaneamente e diga-se de passagem, durante toda a pandemia, as escolas públicas dessas cidades não receberam nenhum investimento na adaptação estrutural para dar condições sanitárias mínimas aos que vierem a transitar pelo espaço escolar, os governos não criaram regras rígidas e não produziram um programa de fiscalização dos transportes públicos, não investiu maciçamente no fornecimento de EPI’s, e principalmente, não há nenhum controle da situação epidemiológica nesses municípios.
Quando falam de retorno das aulas presenciais, temos a impressão de que esses governos não conhecem a realidade da escola pública, nunca entraram numa sala de aula e só querem obedecer à pressão do empresariado local, enxergando na escola pública um depósito de crianças e adolescentes e não um espaço privilegiado de produção de conhecimento. Retornar as aulas presenciais neste momento, sem nenhuma condição sanitária, sem vacinação da população, é colocar em risco milhares de cidadãos, entre os quais crianças, adolescentes, seus familiares, os trabalhadores em educação e a população em geral. Um estudo da Universidade de Granada mostrou que ao colocar 20 crianças e adolescentes numa sala de aula implicaria produzir uma rede de contato de mais de 15 mil pessoas, em apenas 3 dias. Com a diferença gritante que na época do estudo não conhecíamos as variantes que circulam hoje, que na Espanha a média de filhos de uma família é de 1,5 e que as escolas de lá são de longe muito diferentes em termos estruturais da nossa realidade. Não podemos naturalizar a morte. Ainda que crianças não estejam diretamente no grupo de risco, morreram no Brasil mais de 1 mil crianças por Covid 19 em 2020, e mais elas convivem diretamente com avós, tios, mães, pais, vizinhos que possuem comorbidade, não podemos negligenciar que crianças possuem uma capacidade de transmitir a doença 60% a mais que adultos, não dá pra fingir que as novas variantes não existem e que podem matar. Retornar às aulas agora é (mais) um atentado contra a escola pública e a saúde na população.
Repúdio à quem atenta contra nossas vidas
Por tudo isso, seguimos apoiando incondicionalmente os trabalhadores da educação de Araruama e Saquarema que estão em greve em defesa da vida e rechaçamos qualquer ameava velada ou direta à esses bravos companheiros feitas pelos governos de Manoela Perez (DEM, de Saquerema) e Lívia de Chiquinho (Progressistas, de Araruama). Esses trabalhadores nunca se negaram manter interação com os estudantes, mas exigem que isso ocorra de forma remota e segura. Cabendo, portanto, ao poder público garantir recursos e condições técnicas e tecnológicas à estudantes e trabalhadores da educação de forma que impactos não sejam ainda maiores e desiguais.
Assinam essa nota:
Sepe Costa Litorânea
Sepe Macaé
Sepe Lagos
Sepe Maricá
Sepe Casimiro de Abreu
Sepe Niterói
Sepe Itaboraí
Sepe Rio das Ostras
Intersindical: Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora – Direção majoritária da Regional IX.
Sepe Campos
Sepe Cachoeira de Macacu
Sepe regional 8
Deixe uma resposta