Em assembleia, educadores de Búzios mantém greve sanitária e repudiam racismo patrocinado pela Seme

Os profissionais da educação de Armação dos Búzios, na última terça (27), realizaram uma nova assembleia online. Neste encontro, avaliaram a situação da luta por condições de segurança sanitária nas escolas. O movimento visa a preservação das vidas dos trabalhadores que estão sendo forçados a trabalhar presencialmente, expostos ao risco de contágio pelas novas variantes do coronavírus, sem que a prefeitura os proporcione proteção adequada. Por unanimidade, os trabalhadores votaram pela manutenção da Greve Pela Vida e por novas ações de mobilização.

Uma luta decisiva em defesa da saúde, da vida, e pelo direito à educação

Esta greve é um movimento que defende a manutenção do trabalho remoto, em home office, como medida preventiva frente à pandemia que está completamente fora de controle. Atualmente os sistemas público e privado de saúde estão totalmente saturados, com altíssimas taxas de ocupação de leitos de UTI, e os governos não têm avançado de maneira significativa na vacinação da população e na adoção de medidas eficazes para a redução dos contágios.

Também é parte das reivindicações da greve que a Secretaria Municipal de Educação forneça os EPIs (equipamentos de proteção individual) adequados para todos os trabalhadores das escolas municipais. É exigida a distribuição de dispositivos digitais e de pacotes de dados para conexão à internet para os estudantes e para os trabalhadores da escolas, única maneira de viabilizar as atividades remotas para todos os alunos sem onerar ainda mais as suas famílias, que já estão submetidas ao drama do desemprego, do trabalho precário e da fome.

O movimento exige, ainda, que a prefeitura implemente um plano de obras de reparos e adaptações da infraestrutura escolar. Isso é necessário para adaptar as escolas à atual situação epidemiológica, garantindo condições de segurança sanitária nas unidades de ensino, pois é evidente que a simples disponibilização de álcool a 70% e de produtos de limpeza e higiene não é o bastante para prevenir contágios no ambiente escolar.

Alexandre Martins e Carla Natália Marinho: o descaso com a vida continua

Essas reivindicações têm sido sistematicamente ignoradas pela prefeitura de Búzios. Ao longo de 2020, foram demandas que os governos “ioiôs” de André Granado (MDB) e Henrique Gomes (Patriotas) se negaram a atender. E agora, com o atual governo de Alexandre Martins (Republicanos), alinhado ao bolsonarismo, a situação não mudou.

Na assembleia os educadores debateram o difícil momento que a categoria está atravessando, com muitos trabalhadores acatando às determinações da prefeitura por medo de represálias e também por não entenderam o quão urgente é a união dos trabalhadores da educação para alcançar as demandas sanitárias da categoria e, assim, evitarem mais mortes de colegas de trabalho e também dos demais integrantes das comunidades escolares.

Para fortalecer o movimento, os educadores decidiram pela amplificação da divulgação da greve, esclarecendo para toda as comunidades que trata-se de movimento que se opõe apenas ao trabalho presencial, mantendo o trabalho remoto, e também para conscientizar a população sobre os riscos colocados pelo atual momento da pandemia, cobrando da prefeitura, que é a empregadora dos profissionais da educação, que cumpra sua obrigação legal de fornecer todos os EPIs necessários para prover proteção respiratória e antiviral aos trabalhadores.

Episódio de racismo revoltou a categoria e exige respostas

Os educadores avaliaram ainda a repercussão nacional do escândalo que foi desencadeado pelo crime de racismo praticado pelo “coach” Dalmir Sant’anna, da empresa Instituto Conhecer, com a conivência e o patrocínio por dinheiro público pela Secretaria Municipal de Educação. Sobre isso, a assembleia reafirmou o repúdio da categoria à prática do palestrante charlatão.

Os trabalhadores tiveram consenso de que foi muito negativa a postura da secretaria com a publicação de uma nota justificativa — e não de retratação — sobre o ocorrido. A Seme, o Instituto Conhecer e o palestrante Dalmir Sant’anna não reconheceram que houve racismo no evento da secretaria, mesmo após centenas de pessoas terem negativado as avaliações do vídeo da palestra no YouTube, fato que levou-os a retirar o conteúdo do ar.

Eles se mantém inflexíveis mesmo após mais de 40 entidades, organizações e movimentos de diversos segmentos e, principalmente, das comunidades quilombolas da região, terem se unido ao Sepe Lagos no repúdio ao episódio.

Essa postura de relativizar a gravidade do ocorrido mostra que o Seme não pretende efetivamente combater esse tipo de discriminação no âmbito da rede municipal de ensino, o que é um retrocesso para todas as comunidades escolares.

Confira abaixo as principais propostas aprovadas pela assembleia:

• Ampla divulgação da greve e do compromisso do trabalho remoto como forma de preservação da saúde e das vidas dos trabalhadores da educação e de todos os demais integrantes das comunidades escolares;

• Ampla divulgação da cobrança de fornecimento de dispositivos digitais e condições gratuitas de acesso à internet para alunos e trabalhadores da educação;

• Usar as mediações com alunos e os contatos com as famílias para falar sobre a promessa de tablets/internet que a secretária Carla Natália fez na última audiência pública realizada na Câmara Municipal. Também dialogar sobre a obrigatoriedade do fornecimento dos EPIs, pela Secretaria de E para um o trabalho presencial que está sendo desempenhado agora e para o futuro retorno às aulas;

• Campanha responsabilizando e cobrando mudança de postura da secretária Carla Natália em função da live racista promovida pela Seme e pela empresa Instituto Conhecer;

• Exigir a quebra do contrato com a empresa Instituto Conhecer e a devolução dos 17 mil reais gastos com as palestras para que este dinheiro seja aplicado naquilo que é prioridade no momento: segurança sanitária e condições adequadas de infraestrutura nas escolas da rede municipal frente à grave situação epidemiológica.

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